sábado, 19 de junho de 2010

Deficiências de Fagocitose

          A fagocitose é uma característica essencial do sistema imune de um animal. Na fagocitose a célula fagocitária como, por exemplo, um macrófago, engloba e destrói partículas estranhas e microorganismos patogênicos (vírus, bactérias, etc). Quando a célula fagocitária se encontra com o material estranho, ocorre capturação, por "englobamento", dessa partícula estranha, (ver figura leucócito fagocitando candida albicans). Esta será incorporada a uma vesícula pinocitótica, ocorre a formação de um fagossomo, a ativação da cadeia respiratória e a presença de enzimas lisossomais neste fagossomo, que irão digerir a partícula estranha. A partícula digerida é, então, absorvida pelo citoplasma da célula ou expulsa através da vesícula (ver figura mecanismo normal da fagocitose). De forma simples, podemos entender que a fagocitose é um mecanismo importantíssimo de nosso organismo que o protege contra a invasão de agentes estranhos e causadores de doenças. Se este mecanismo fagocítico encontrar-se deficiente, a proteção do organismo estará prejudicada, e o animal sujeito a morte, pois estará susceptível a várias doenças causadas por microrganismos.

          As células fagocitárias são encontradas ao redor das membranas mucosas e pele bem como na corrente sangüínea, baço, linfonodos, meninges, membranas sinoviais, medula óssea e ao redor dos vasos sangüíneos ao longo do corpo. Os fagócitos estão presentes nos tecidos (histiócitos, macrófagos sinoviais, células de Kupffer, entre outros.) ou no sangue (leucócitos polimorfonucleares, monócitos).
           Deficiências na fagocitose podem envolver defeitos congênitos ou adquiridos nas fases ou no número disponível de fagócitos. Os fagócitos têm receptores de imunoglobulinas e de complemento em suas superfícies que auxiliam no “englobamento” do material estranho coberto com anticorpos específicos (opsoninas) ou complemento, ou ambos.
          Essas deficiências manifestam-se freqüentemente pelo aumento de suscetibilidade a infecções bacterianas da pele, sistema respiratório e trato gastrointestinal, que respondem pobremente a antibióticos. As deficiências fagocitárias adquiridas incluem desordens que levam a depressões leucocitárias profundas e crônicas. Como exemplos de doenças que podem desenvolver infecções secundárias como complicação com risco de vida, temos as infecções com vírus da leucemia felina, infecção com o vírus da panleucopenia felina, infecção com o vírus da imunodeficiência felina, pancitopenia canina tropical (ou erlichiose canina – ver figura), granulocitopenias idiopáticas, granulocitopenias induzidas por drogas (drogas anticancerígenas, estrogênios, anticonvulsivantes, sulfonamidas, etc.) e distúrbios mieloproliferativos. São graves doenças infecciosas que, em animais deficientes de fagocitose, tem o potencial maior de levá-los à morte.
          Um decréscimo cíclico de todos os elementos celulares, mais notadamente neutrófilos, ocorre no sangue periférico, baixando a resistência a infecções de collies cinza e mestiços de collie. Algumas famílias de weimaraners sofrem de septicemias bacterianas (geralmente manifestadas por infecções ósseas e articulares) em filhotes. A causa é desconhecida; alguns dos animais afetados têm níveis abaixo do normal de IgM e IgG, e pesquisas preliminares indicam que os leucócitos apresentam um defeito bactericida.
          Doenças granulomatosas crônicas têm sido reconhecidas como um defeito ligado ao cromossomo X em alguns cães setter irlandeses caracterizando a síndrome granulocitopática canina (figura do cão e texto abaixo).


Nas doenças granulomatosas crônicas em cães, os casos exibem um padrão recessivo de herança ligada ao cromossomo X. Essas doenças se devem a um defeito da produção do ânion superóxido, que constitui um mecanismo microbicida importante dos fagócitos. Em cães setter irlandeses, pode ocorrer a síndrome granulocitopática, que se deve a uma causa congênita de neutrofilia inflamatória. Os neutrófilos parecem morfologicamente normais, mas apresentam prejuízo na atividade bactericida em razão da deficiência de proteínas de adesão. Os cães acometidos podem desenvolver infecções bacterianas recorrentes, com leucocitose extrema, que pode mimetizar leucemia granulocítica crônica.

          O diagnóstico precoce das imunodeficiências permite o tratamento adequado, reduzindo significativamente a mortalidade e a morbidade por infecções recorrentes. No caso das deficiências de fagocitose, a base terapêutica é o diagnóstico precoce da infecção e o uso imediato e agressivo de antibióticos adequados. É importante uma pesquisa cuidadosa sobre a causa da infecção, de forma a que possa ser determinada a sensibilidade do microrganismo aos antibióticos. O interferão-gama (IFN-γ), um produto natural do sistema imunitário, é também usado para tratar doentes com Doença Granulomatosa Crônica, para fortalecer o seu sistema imunitário.
          A qualidade de vida, para muitos doentes deficientes de fagocitose, tem melhorado bastante com os conhecimentos sobre as anomalias das células fagocitárias e com o reconhecimento da necessidade da terapêutica precoce e agressiva com antibióticos, quando na presença de infecções.




Referências

Manual Merck de Medicina Veterinária; 7ª ed. 1991; Clarence M. Frase; Editora ROCA; Págs. 524 e 525
Manual Saunder - Clínica de Pequenos Aanimais; 3ª ed. 2008; Editora ROCA
 
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