sábado, 26 de junho de 2010

Doença SCID ligada ao cromossomo X

      SCID (Imunodeficiência Combinada Grave) é uma doença hereditária que causa deficiências no sistema imune. Nesta doença os glóbulos brancos têm função defeituosa ou não existem.
      O fato de o sistema imune estar muito comprometido, permite a instalação de graves doenças infecciosas, que podem custar a vida do indivíduo.
      Os indivíduos com a doença podem ter os linfócitos T ou B afetados, ou as células NK (natural killer).
      É uma doença hereditária. Os genes determinam a formação de proteínas específicas, muitas destas fazem parte da formação do sistema imune. Se há um defeito em um gene, vai haver ausência de uma proteína importante para o bom funcionamento do sistema imunitário. Cada gene defeituoso caracteriza uma SCID diferente.
     Os nomes dados às diferentes SCID são baseados nas diferentes proteínas afetadas ou nos genes defeituosos.
       Nos cães, é muito comum  a SCID ligada ao cromossomo X, o gene afetado é aquele que codifica a formação de um receptor para a citotocina cadeia gama comum. O gene defeituoso é transportado no gene X (um dos cromossomos sexuais). A mãe possui dois cromossomo X e o pai um cromossomo X e um Y. A mãe vai passar um cromossomo X ao seu filho, se um dos dois cromossomos estiver afetado existe uma chance de 50% da criança herdar o gene afetado, e 50% dela herdar o gene não afetado.
       Normalmente fêmeas são somente portadoras, pois o cromossomo X do pai compensa o X defeituoso passado pela mãe. No entanto, machos manifestam a doença, pois o gene X mutado e passado pela mãe, não é compensado, pois recebem um gene Y do pai.
        A vida dos filhotes durante as primeiras semanas é protegida, pois recebem anticorpos provenientes da mãe pelo colostro e pela placenta, nas últimas semanas de vida fetal. No entanto, com o passar do tempo o filhote vai apresentar infecções severas, e microorganismos do ambiente, que normalmente seriam inofensivos para filhotes, são potencialmente fatais para filhotes com  SCID.

           Os cães da raça Basset Round e Cardigan Welsh Corgi são os mais afetados. As características da doença incluem, um desenvolvimento pequeno do timo, decréscimo na produção de linfócitos T e IgG, ausência de IgA e quantidades normais de IgM.

   
      









Referências:
- www.ich.ucl.ac.uk/gosh_families/information_sheets/immunodeficiency_sci/immunodeficiency_scid_families_portuguese.pdf 
- www.icb.ufmg.br/big/genegrad/genetica/genetica/modosheranca.htm
- www.upei.ca/~cidd/Diseases/immune%20disorders/severe%20combined%20immunodeficiency.htm·          
- cathamensak.wordpress.com/2009/11/22/decisao/

sábado, 19 de junho de 2010

Deficiências de Fagocitose

          A fagocitose é uma característica essencial do sistema imune de um animal. Na fagocitose a célula fagocitária como, por exemplo, um macrófago, engloba e destrói partículas estranhas e microorganismos patogênicos (vírus, bactérias, etc). Quando a célula fagocitária se encontra com o material estranho, ocorre capturação, por "englobamento", dessa partícula estranha, (ver figura leucócito fagocitando candida albicans). Esta será incorporada a uma vesícula pinocitótica, ocorre a formação de um fagossomo, a ativação da cadeia respiratória e a presença de enzimas lisossomais neste fagossomo, que irão digerir a partícula estranha. A partícula digerida é, então, absorvida pelo citoplasma da célula ou expulsa através da vesícula (ver figura mecanismo normal da fagocitose). De forma simples, podemos entender que a fagocitose é um mecanismo importantíssimo de nosso organismo que o protege contra a invasão de agentes estranhos e causadores de doenças. Se este mecanismo fagocítico encontrar-se deficiente, a proteção do organismo estará prejudicada, e o animal sujeito a morte, pois estará susceptível a várias doenças causadas por microrganismos.

          As células fagocitárias são encontradas ao redor das membranas mucosas e pele bem como na corrente sangüínea, baço, linfonodos, meninges, membranas sinoviais, medula óssea e ao redor dos vasos sangüíneos ao longo do corpo. Os fagócitos estão presentes nos tecidos (histiócitos, macrófagos sinoviais, células de Kupffer, entre outros.) ou no sangue (leucócitos polimorfonucleares, monócitos).
           Deficiências na fagocitose podem envolver defeitos congênitos ou adquiridos nas fases ou no número disponível de fagócitos. Os fagócitos têm receptores de imunoglobulinas e de complemento em suas superfícies que auxiliam no “englobamento” do material estranho coberto com anticorpos específicos (opsoninas) ou complemento, ou ambos.
          Essas deficiências manifestam-se freqüentemente pelo aumento de suscetibilidade a infecções bacterianas da pele, sistema respiratório e trato gastrointestinal, que respondem pobremente a antibióticos. As deficiências fagocitárias adquiridas incluem desordens que levam a depressões leucocitárias profundas e crônicas. Como exemplos de doenças que podem desenvolver infecções secundárias como complicação com risco de vida, temos as infecções com vírus da leucemia felina, infecção com o vírus da panleucopenia felina, infecção com o vírus da imunodeficiência felina, pancitopenia canina tropical (ou erlichiose canina – ver figura), granulocitopenias idiopáticas, granulocitopenias induzidas por drogas (drogas anticancerígenas, estrogênios, anticonvulsivantes, sulfonamidas, etc.) e distúrbios mieloproliferativos. São graves doenças infecciosas que, em animais deficientes de fagocitose, tem o potencial maior de levá-los à morte.
          Um decréscimo cíclico de todos os elementos celulares, mais notadamente neutrófilos, ocorre no sangue periférico, baixando a resistência a infecções de collies cinza e mestiços de collie. Algumas famílias de weimaraners sofrem de septicemias bacterianas (geralmente manifestadas por infecções ósseas e articulares) em filhotes. A causa é desconhecida; alguns dos animais afetados têm níveis abaixo do normal de IgM e IgG, e pesquisas preliminares indicam que os leucócitos apresentam um defeito bactericida.
          Doenças granulomatosas crônicas têm sido reconhecidas como um defeito ligado ao cromossomo X em alguns cães setter irlandeses caracterizando a síndrome granulocitopática canina (figura do cão e texto abaixo).


Nas doenças granulomatosas crônicas em cães, os casos exibem um padrão recessivo de herança ligada ao cromossomo X. Essas doenças se devem a um defeito da produção do ânion superóxido, que constitui um mecanismo microbicida importante dos fagócitos. Em cães setter irlandeses, pode ocorrer a síndrome granulocitopática, que se deve a uma causa congênita de neutrofilia inflamatória. Os neutrófilos parecem morfologicamente normais, mas apresentam prejuízo na atividade bactericida em razão da deficiência de proteínas de adesão. Os cães acometidos podem desenvolver infecções bacterianas recorrentes, com leucocitose extrema, que pode mimetizar leucemia granulocítica crônica.

          O diagnóstico precoce das imunodeficiências permite o tratamento adequado, reduzindo significativamente a mortalidade e a morbidade por infecções recorrentes. No caso das deficiências de fagocitose, a base terapêutica é o diagnóstico precoce da infecção e o uso imediato e agressivo de antibióticos adequados. É importante uma pesquisa cuidadosa sobre a causa da infecção, de forma a que possa ser determinada a sensibilidade do microrganismo aos antibióticos. O interferão-gama (IFN-γ), um produto natural do sistema imunitário, é também usado para tratar doentes com Doença Granulomatosa Crônica, para fortalecer o seu sistema imunitário.
          A qualidade de vida, para muitos doentes deficientes de fagocitose, tem melhorado bastante com os conhecimentos sobre as anomalias das células fagocitárias e com o reconhecimento da necessidade da terapêutica precoce e agressiva com antibióticos, quando na presença de infecções.




Referências

Manual Merck de Medicina Veterinária; 7ª ed. 1991; Clarence M. Frase; Editora ROCA; Págs. 524 e 525
Manual Saunder - Clínica de Pequenos Aanimais; 3ª ed. 2008; Editora ROCA
 
Imagens:
www.tamandua.com.br/imagens/o-carrapato.jpg - adaptada
www.marvistavet.com/assets/images/Ehrlichia_in_a_monocytic_cell_arrow.gif - adaptada
www.icb.ufmg.br/prodabi/prodabi4/grupos/grupo1/figuras/fagocitose2.gif - adaptada
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terça-feira, 15 de junho de 2010

Doença Infecciosa da Bolsa (DIB)


    A doença infecciosa da bursa de Fabricius (DIB) é uma doença caracterizada pela imunossupressão e mortalidade de aves jovens. O vírus da doença infecciosa da bursa de Fabricius (VDIB) é um vírus de RNA fita dupla do gênero  Avibirnavirus da família  Birnaviridae.  Altamente contagioso, possui muitas variações que podem infectar tanto galinhas como patos e perus.
     O VDIB é responsável por mudanças na morfofisiologia do sistema imune das aves afetadas. O vírus multiplica-se nos tecidos linfóides com preferência pela bursa de Fabricius, destruindo células linfóides causando imunossupressão e conseqüentemente aumento de outros agentes infecciosos. Algumas variedades do VDIB causam pequenas ou nenhuma infecção na bursa de Fabricius, enquanto outras variedades causam perda extrema de seu estroma e do microambiente folicular que suporta a diferenciação celular dos linfócitos B, o que explica a severa imunodepressão conseqüente da infecção geral. Como a doença ataca os tecidos linfóides, os principais afetados são as aves de duas a oito semanas de idade, as quais possuem maior atividade na bursa de Fabricius.
     O vírus pode levar a morte pela necrose dos tecidos linfóides e mesmo que a ave sobreviva e se recupere dessa fase da doença, ela ainda continuará imunocomprometida estando mais suscetível a infecções secundárias e menos suscetível aos efeitos das vacinas. As lesões são mais fáceis de serem visualizadas na necropsia especialmente em aves que morreram da doença. A bursa de Fabricius se mostra inchada, edematosa, amarelada, e ocasionalmente hemorrágica. Congestões e hemorragias do peitoral, cochas e músculos das pernas também são freqüentemente observados. As aves que se recuperam da infecção viral apresentam o órgão linfóide atrofiado.
     A infecção não pode ser transmitida da mãe para o filho. Normalmente é contraída via oral, mas pode ser por via do tecido conjuntivo ou do trato respiratório, com um período de incubação de 2 a 3 dias.  Pequenos insetos que servem de alimento para galináceos podem carregar o vírus por 8 semanas, e aves doentes excretam grandes quantidades do vírus por 2 semanas  depois da infecção. Os sintomas são mais evidentes em pássaros de 4 a 6 semanas e dentre as galinhas a White Leghorn é mais suscetível ao vírus do que as broilers e brown-egg layers.
     Apesar de não existir nenhum tratamento específico para a doença, as aves de 3 a 8 semanas de idade são comumente vacinadas com vírus atenuados e depois são revacinados com uma vacina inativada a base de óleo. Se os anticorpos da mãe ainda estiverem em grande quantidade nos filhotes vacinados é possível que a imunização não seja efetiva.

sábado, 5 de junho de 2010

Imunodeficiência Combinada em Eqüinos

      O mercado eqüestre cada vez mais faz uso do desenvolvimento da citologia e da genética. Doenças graves como a Síndrome da Imunodeficiência Combinada (SCID) são causadas por alterações cromossômicas e, por isso, podem ser diagnosticadas com a análise do cariótipo. Essa prática, cada vez mais utilizada neste mercado, diminui as chances de se perder um investimento de alto valor. 

      Entre as alterações cromossômicas não desejáveis algumas causam a Síndrome da Imunodeficiência Combinada (SCID). É uma imunodeficiência primária e autossômica recessiva identificada em cavalos árabes. Causa ausência combinada das funções dos linfócitos B e T. Potros que apresentam esses genes morrem antes dos cinco meses de idade. Devido a seu sistema imune deficiente ocorre infecção generalizada causada por patógenos comuns, seu sistema imune está tão debilitado que até mesmo vacinas podem levá-lo a morte.

      Pelo modelo mendeliano se dois animais portadores desse gene autossômico recessivo procriarem, a cria tem 50% de chance de ser portadora desse gene e não manifestar a SCID, 25% de chance de ser afetada pela síndrome e 25% de chance de não portar os genes da SCID. Por isso, o mercado equestre cada vez mais faz uso da citogenética para diagnósticos com a análise do cariótipo.

      Essa prática, cada vez mais comum neste mercado, agrega valor ao animal, diminui as chances de um potro nascer com genes indesejados e impede fraudes na determinação do pedigree e da paternidade. A equinocultura movimenta milhares de reais por ano. Seus animais com alto valor comercial apresentam genética superior com fenótipo e desempenho de alto padrão.

      O uso da citogenética junto a marcadores fluorescentes, hibridização in situ e alguns procedimentos usados na biologia molecular, como a reação da polimerase em cadeia (PCR) possibilitou o conhecimento do genoma equino. Tornou-se possível a identificação de animais com genes desejáveis e não desejáveis.

      Alterações cromossômicas são comuns na equinocultura devido ao alto número de acasalamentos consanguíneos. O avanço do projeto genoma forneceu grande avanço genético para a equinocultura, isso continuará resultando em novas ferramentas para um continuo desenvolvimento da equinocultura mundial.

      Algumas doenças, como a SCID, podem ser determinadas através de exames do cariótipo. Ela é letal e ainda não se encontrou cura em equinos. Com o desenvolvimento da citogenética e com o auxilio de outras práticas da biologia molecular esse exame se tornou possível e acessível. Com o contínuo desenvolvimento das técnicas moleculares que determinam as práticas veterinárias esse gene será eliminado devido às análises do DNA dos reprodutores ou encontrarão a cura para essa doença.